terça-feira, 10 de julho de 2012

“Narradores de Javé”, de Eliane Caffé.





O filme mostra a história da comunidade que vive no Vale de Javé, no sertão baiano. Com a construção de uma grande usina hidroelétrica próximo do local, será construída uma barragem e o povoado será inundado. Em vista disso, o povo se reúne para procurar uma alternativa e impedir que tenham que sair daquelas terras. Um dos moradores da cidade, o narrador da história, tem uma ideia: fazer com que a cidade seja tombada pelo patrimônio histórico, impedindo assim sua destruição. Para isso, os moradores precisam comprovar cientificamente sua importância histórica/cultural. 
Mas qual a importância de um pequeno vilarejo no meio do sertão baiano?
Ainda reunidos, os moradores, chegaram à conclusão que o mais importante em Javé era as narrativas de seu povo, sobre a própria história do lugar. A história de um povo guerreiro que “fugiu” ou “saiu em retirada”, expulso de onde vivia, em busca de um novo lugar. Um povo que há muitos anos atrás andou durante dias, noites, meses até encontrar o Vale de Javé. 
Antônio Biá, o único morador alfabetizado, foi a única alternativa para “registrar nas letras” a história do lugar e a partir disso criar o marco histórico e o caráter científico que precisavam para salvar o vilarejo. Há um tempo Seu Biá havia sido expulso do povoado, pois trabalhava nos correios de Javé e para manter seu emprego, mandava cartas para os seus conhecidos em outras cidades contanto histórias sobre os moradores de Javé, assim aumentava o fluxo de correspondências e mantinha seu trabalho. Quando os moradores descobriram, o expulsaram do lugar, já que suas histórias não eram muito fidedignas ("verdadeiras"). 
Para escrever o livro, Antônio, ouviu as diferentes histórias narradas pelos moradores do povoado que fizeram com que entrasse em conflito entre a realidade e a representação dos fatos apresentados nas narrativas.
Cruikshanck destaca algumas questões sobre a história oral enquanto método de pesquisa: a quem cabe formular e contar a história? Que vozes se destacam nessas discussões e quais as marginalizadas? 
Mesmo que o filme seja narrado por um morador do lugar, podemos ouvir os moradores contando sua própria história. Mesmo que seja a partir do olhar de outro, trata-se de um morador contando a história de outro morador (Antônio Biá) que tem a tarefa de registrar a história do lugar. 

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