Há países sem lugar e histórias sem cronologia;
cidades planetas, continentes, universos,
cujos vestígios seria impossível rastrear em qualquer mapa ou
em qualquer céu,
muito simples porque não pertencem a lugar nenhum.
Sem dúvida, essas cidades, esses continentes,
esses planetas nasceram, como se costuma dizer,
na cabeça dos homens, ou, na verdade,
no interstício de suas palavras,
na espessura de suas narrativas, ou ainda,
no lugar sem lugar de seus sonhos, no vazio de seus corações;
numa palavras, é o doce gosto das utopias.
No entanto, acredito que há - e em toda sociedade;
utopias que têm lugar preciso e real,
um lugar que podemos situar no mapa;
utopias que têm um tempo determinado,
um tempo que podemos fixar e medir conforme o calendário de todos os dias.
É bem provável que cada grupo humano,
qualquer que seja, demarque, no espaço que ocupa,
onde realmente vive, onde trabalha,
lugares utópicos, e, no tempo em que se agita,
momentos ucrônicos.
Michel Foucault
O Corpo Utópico, as Heterotopias
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