quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Acolhimento: a arte do encontro e a escuta sensível

Durante a prática da escuta sensível entendo como necessário o exercício da alteridade, colocar-se no lugar do outro e a partir disso conseguir compreender qual postura adotar diante da situação. Esse processo faz parte do acolhimento e deve ser singularizado, ou seja, seus encaminhamentos desenvolvidos a partir de cada situação, sem normas ou prescrições. Em diversas situações, o problema pode ser resolvido sem a necessidade de nenhum encaminhamento, pois a necessidade do outro está em ser ouvido. Ao relatar seu problema para o "outro" temos oportunidade de ressignificar a situação que está sendo relatada e reavaliar nossa própria postura naquele contexto.

De acordo com Merhy (2013), o encontro com o "outro" é uma arte a céu aberto e se faz no cotidiano. Quando encontramos alguém, encontramos uma obra de arte, pois todos na produção de suas existências produzem obras de arte. A própria existência é uma obra de arte tão instigante quanto qualquer pintura genial. As obras de arte nos convocam a colocar nosso corpo sensível antes dos nossos pensamentos. A obra de arte consegue nos convocar sensivelmente para depois pensar. Quando chegamos pensando antes para ver a obra, nós não conseguimos ver a obra, pois não deixamos a obra nos ver antes. Isso é uma questão fundamental na área da saúde: quando estamos na prática de cuidado e não conseguimos ver o "outro" que está nos vendo, reproduzimos a mesma coisa, chegamos com o pensamento antes, com o corpo pensamento antes. Quando não chegamos com o corpo sensível no encontro com o "outro", que é uma obra de arte, para se expor ao momento e explorar a riqueza desse momento, que é a riqueza artística da existência de cada um. Quem não conseguir fazer isso, na área da saúde, sempre fica devendo na prática de cuidado, porque ele acha que está cuidando do "outro" sem nem saber quem é esse "outro".

O trecho acima foi transcrito da entrevista do Emersom Elias Merhy para Rádio Web Saúde UFRGS, durante a realização do Encontro Regional Sudeste da Rede Unida no Parque Inhotim - Minas Gerais, realizado em agosto de 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_F_g5ihrJtA
Acesso em: 20 de ago. de 2014.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

ITINERÂNCIA NA ATENÇÃO BÁSICA


  • Unidade da Saúde da Família Osmar Freitas:

Fachada da USF Osmar Freitas. Foto: Amanda Brito de Freitas.

Localizada na Rua Jorge Simon, 146 - Bairro Santa Tereza. A Unidade funciona de segunda à sexta no turno da manhã das 8h às 12h e no turno da tarde das 13h às 17h. Jonathan da Rosa, enfermeiro e coordenador, não estava presente no momento da visita. Fomos recebidos por uma enfermeira da equipe, que nos mostrou a estrutura física e relatou sobre as ações e serviços ofertados. 

A unidade comporta duas equipes da Estratégia Saúde da Família - ESF, as quais, contam com nove agentes comunitários, divididos em doze micro-áreas; dois médicos de família, sendo um deles do Programa Mais Médicos; dois enfermeiros; quatro técnicos de enfermagem; e não possui Equipe de Saúde Bucal. A demanda odontológica é encaminhada à Unidade Básica de Saúde Vila dos Comerciários. De forma complementar, ainda, fazem parte da equipe: dois estagiários de medicina (doutorandos), dois monitores do PET do curso de enfermagem e um médico residente em Saúde da Família. 

Foto do painel do serviço com divulgação dos grupos oferecidos. Foto: Fabiano Barnart.
As reuniões de equipe ocorrem todas as quintas das 15h às 17h, e uma vez ao mês das 13h às 17h. Entre as ofertas de ações e serviços, estão os grupos de educação em saúde, que abordam Tabagismo, Nutrição (compreendendo obesidade e diabetes), Gestantes, Asma-Rinite, Caminhada, Saúde Mental, Terapia Comunitária e Convivência. Além disso, constam visitas domiciliares e o Programa Saúde na Escola (PSE) e serviços básicos como: teste do pezinho, vacinas, curativos, nebulização, teste rápido (HIV, sífilis, hepatites e gravidez), farmácia básica para dispensação de medicamentos, consultas em geral, pré-natal, puericultura, preventivo e acolhimento.

No acolhimento, que é realizado em todos os turnos, não se trabalha com fichas ou horários pré-agendados. As equipes são matriciadas pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) - Glória para discussão de casos considerados complexos, e quando há necessidade de encaminhamentos para especialistas contam com o sistema de regulação de consultas ambulatoriais especializadas (AGHOS).

Sementes de uma Horta Comunitária. Foto: Fabiano Barnart
As equipes criaram um jornal da Unidade como forma de acesso à informação para os usuários. Através da aproximação com a comunidade, os profissionais conseguiram uma abertura para utilizar o centro comunitário para as reuniões de grupos. Um projeto futuro foi idealizado com a pretensão de construção de uma horta comunitária vertical envolvendo usuários da saúde mental.
 
  • Unidade de Saúde da Família Estrada dos Alpes:

O serviço está localizado na Estrada dos Alpes, 671 - Bairro Teresópolis. O horário de funcionamento é a partir das 8h até 12h e das 13h até 17h. A unidade foi reformada recentemente, o Centro Comunitário está localizado embaixo da unidade, local utilizado eventualmente pelo serviço para realização de grupos, reuniões e outras atividades.

A unidade possui uma equipe de saúde da Família (ESF) e uma equipe de saúde bucal (ESB). A ESF é formada por um médio espanhol (Programa Mais Médicos), uma enfermeira (coordenadora do serviço), duas técnicas de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde, sendo uma delas agente comunitária da comunidade quilombola. A ESB é formada por uma dentista, com carga horária de 20h semanais, uma auxiliar de saúde bucal e uma técnica de saúde bucal.

O acolhimento é realizado com todos os usuários que chegam ao serviço, independente de dia/horário, segundo a técnica de saúde bucal é o grande diferencial do serviço, pois nenhum usuário que chega ao serviço sai sem resposta. A implementação do acolhimento é um desafio para a equipe, pois parte comunidade ainda está acostumada com o sistema distribuição de fichas e especialidades, quando o serviço ainda era uma unidade básica de saúde, alguns usuários ainda chegam ao serviço solicitando as fichas.


A realização do teste rápido para HIV, sífilis e hepatites é realizado de acordo com a demanda que chega à unidade, a qualquer momento e é bastante divulgado na unidade, possui cartazes informativos sobre sua realização em todos os consultórios e na recepção. Segundo a profissional que nos recebeu, na população da área de atuação existe grande prevalência de usuários portadores de HIV e alta incidência de tuberculose e sífilis.

O telefone da ouvidoria do SUS é divulgado na recepção da unidade, conforme preconizado, também são divulgados informações sobre cursos técnicos, de línguas estrangeiras e ofertas de emprego. Os fluxos de referência e contra referência são ruins, entretanto, a odontologia consegue realizar comunição. Um dos problemas da unidade é não possuir acesso à internet, por isso não utilizam o E-SUS e os agentes digitam as fichas semanalmente na Gerência Distrital. Em breve a unidade irá proporcionar para seus usuários um grupo de caminhada, além disso, possui o desafio da formação do conselho local de saúde com representação dos líderes comunitários dos dois territórios da área de abrangência, que possuem conflitos históricos por causa da disputa de terras entre a comunidade quilombola e a comunidade representada pela associação de moradores do Morro dos Alpes.


Tivemos a oportunidade de conhecer a Associação Quilombo do Octógono, onde fomos recebidos pela liderança do Quilombo dos Alpes, a líder comunitária Janja. De acordo com a última contagem realizada, o território do Quilombo possui 74 famílias, porém estima-se que atualmente mais de 100 famílias quilombolas morem no local. 

Os primeiros moradores chegaram ao Morro dos Alpes há cerca de 160 anos, sendo que o processo de auto reconhecimento enquanto quilombola se iniciou há 10 anos, algumas famílias ainda possuem receio em se assumir enquanto remanescente de quilombolas devido aos conflitos do passado, segundo Janja esse é um processo que deve ser respeitado e a associação desenvolve atividades para integração da comunidade e arrecadação de recursos para o desenvolvimento de projetos. Existe um processo em andamento no INCRA para que essa população receba o título de comunidade quilombola e seja oficialmente reconhecido o que irá garantir o seu direito à posse da terra.

 
A comunidade quilombola está localizada no alto do Morro dos Alpes, em local de difícil acesso e a maioria das moradias não possui saneamento básico ou coleta de lixo eficiente. A associação realiza oficinas de ervas medicinais, capoeira, costura, artesanato, culinária, agricultura familiar, dança, música, teatro e cinema. Existe um intercâmbio entre o a Associação Quilombo Octógono e um ponto de cultura do interior do estado. A oficina de capoeira ocorre as terças e quintas das 19h às 21h. Outras questões: educação e ensino (biblioteca) e religião.